Famílias. Todos temos. Uns
querem, outros não. Mas todos temos, de uma maneira mais difícil ou mais fácil
mas todos temos. As que se escolhem, as que nascem connosco e as famílias onde
se nasce. As mais importantes, para mim, são as que geram aquela coisa pirosa e
cor-de-rosa do amor.
Posso não saber o que é amor de
irmão ou irmã de sangue, mas tenho umas boas alternativas na minha vida. E
sinto. Sinto e choro que nem uma perdida com histórias do arco-da-velha que por
aí se contam ou vivem. Como a história de duas amigas que estavam a passear no
Chiado e foram paradas por uma senhora, nos seus cinquenta e muitos anos ou
sessenta e qualquer coisa (acho eu… sou péssima para tirar idades… é isso e
parecenças, vou mais pelo poder da sugestão)
que nos queria pedir um favor. Tinha uma nota de dez euros na mão e
tremia. Parámos e ouvimos, preparadas para um pedido de coordenadas (a minha
veia de GPS ficou logo em alerta) ou um pedido de trocos (muito usual em sítios
de parquímetros… ainda tenho pesadelos com a EMEL… é isso). E a senhora lá nos
pediu para… darmos os dez euros a um “rapaz” que estava sentado do outro lado
da rua, num banco junto a uma igreja. O “rapaz de boné” como foi caracterizado
pela senhora que tremia era, e assim deve continuar a ser… desde sexta, um
senhor sem-abrigo, nos seus (a atirar completamente para o ar) setenta com um
gorro daqueles de pelo que se vê nos filmes russos.
Uma das “miúdas” (seremos sempre
miúdas) perguntou à senhora que tremia porque não ia ela entregar os dez euros.
A verdade é que uma pessoa estranha tal pedido… estranha mas depois entranha e foi
com um nó no coração que ouvimos dizer que o “rapaz de boné” é irmão da senhora
que tremia… e que começou a chorar, soluçando, pedindo-nos que entregássemos a
nota e que não disséssemos que era a irmã que estava a dar. O “rapaz de boné”
não podia saber que a sua irmã estava ali e que o queria ajudar…
E lá fomos… ainda a estranhar a
situação, com a sensação de cairmos sem paraquedas numa história familiar que
deverá ter muito por contar, que deixa muito por imaginar e nos atravessou com
aqueles moralismos e chavões de se dar valor ao que se tem “lá em casa”, na família
de nascimento e na família que se construiu.
E é isto. Agora vou meter o meu
nariz já meio parecido com o da rena rudolfo (uma pessoa emociona-se e fica
logo a parecer a rena favorita do Pai Natal) na minha vida.
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