25 de outubro de 2013

As pessoas são muito fortes mas quando o medo chega mijam-se todas!

Um dia destes entrei num táxi e desbobinei um bom dia seguido da morada para onde queria ir. Recebi como resposta “Bom dia?!? Mas acha mesmo que está um bom dia?!?!” naquela sua voz fanhosa como não há outra igual. Reconheci-o logo. Pela terceira vez, neste último ano, apanhei o táxi do mesmo taxista: o Sr. Diamantino.

Sim, já sei o nome dele. É fácil, o senhor introduz muitas vezes a fala na terceira pessoa. Isso e a carteira profissional que indica o nome dele.

De facto esse dia não começou lá muito risonho. Um temporal logo de manhã… com uma trovoada potente que acordou todos os que teimavam em dormir só mais cinco minutos. E por essa mesma razão o Sr. Diamantino afirmava não ser um bom dia… viu o relâmpago e ouviu o “trovoão”. “As pessoas são muito fortes mas quando o medo chega mijam-se todas!” disse enquanto contava como se tinha assustado com o histérico do trovão das sete da manhã, enquanto ajudava uma senhora, que ia para o aeroporto, com todas as bagagens “é que a senhora não tinha nenhum homem para a ajudar”!

Durante a viagem, como é hábito, o Sr. Diamantino contou-me histórias da sua vida e da vida dos outros, vizinhos, familiares e amigos, como o faz com qualquer passageiro.

(É fácil eu aperceber-me que já andei no táxi do Sr. Diamantino pelo menos 3 vezes. São as histórias que ele conta que ficam na memória. Agora ele sabe lá se tem um passageiro repetente… a não ser que seja cromo… ninguém gosta de cromos repetentes.)

Quando veio para Lisboa, tinha 6 meses. A mãe empregou-se em Sacavém numa empresa que agora é a EDP. O pai veio trabalhar para Moscavide. Não gosta de Lisboa. Sempre andou a saltitar de casa em casa até se ter mudado para o Barreiro. “Mudava de casa como quem muda de camisa”. No tempo da Dra. Pintassilgo, quando levou o maior aumento de ordenado da sua vida, enquanto motorista da Carris. Por 430 contos, comprou uma casa no Barreiro… há 34 anos.
Mas a casa era muito quente no verão (“andava só com a camisa que a mãe lhe deu…”) e no inverno uma manta nas costas para ver televisão.

Há poucos anos, vendeu a casa a um amigo que, de seguida, comprou um ar condicionado…

Hoje continua no barreiro. Agora tem uma casa à “facho”.

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