Há muito tempo que os meus ouvidos eram surpreendidos com
conversas alheias de pessoas que não conseguem falar ao telefone de um modo
discreto e apenas com a pessoa que têm do outro lado da linha.
Estava calmamente, em boa companhia, a desfrutar de um
gelado de doce de leite e tangerina, com um sol indeciso lá fora acompanhado de
uma chuva com demasiada atitude, com o cenário composto de algumas pessoas
espalhadas pelas mesas, umas com companhia outras consigo próprias, até que…toca
um telefone! Uuuuuuhh modernices!
Toca o telefone e a senhora loira da mesa do canto, nos seus
50 (bem “entas” mas nunca consigo tirar a
idade perfeita por isso pode até ser “mai” novita) atende e as minhas
antenas de santa activaram-se:
“SIMMMM…. Zééee” (com aquele ar de quem já mandou a paciência às urtigas)
O Zé lá terá respondido do outro lado… estão a ver o som da
professora dos desenhos animados Peanuts (o Snoopy)??
“O que é que tu queres Zé? O que é que eu posso fazer
mais?!? Só se me atirar para a linha do comboio!”
O Zé entra em cena mas não deve falar muito… e tenho a
sensação que as conversas paralelas das outras mesas pararam. A nossa pelo
menos parou. Não dava para fugir. Era uma história com demasiado potencial para
estar a falar do regresso ao trabalho… ou de outra coisa qualquer da qual já
não me lembro.
“Zé, tu sufocas as pessoas! Tu sugas as minhas energias!”
E pronto, desligou…. Assim… a seco…(espanto!) sem um beijinho de despedida… NADA! Porque será!?! O Zé
deve ser uma boa peça deve… mas olhem que ela não chorou… uma proeza aos meus
olhos de santa chorona.
Agora, em defesa do Zé (é
a veia de advogada) direi até que a senhora tem muita energia e uma boa
garganta para por a geladaria em modo de pausa enquanto desancava o Zé. Sem dó
nem piedade. O Zé podia andar a sufocar e a sugar as energias da senhora loira
pintada da mesa do canto, mas ali, naquele momento… o Zé nem piava!